Cartas para Friedrich Nietzsche
Ao ilustríssimo amigo Friedrich Nietzsche,
"Enquanto desejas que haja saudade, há desprezo, fique sozinho e morra!" - Disseram os apaixonados aos frutos de seu imortal desejo.
Curioso, porém pouco inédito, constatar a aparência, tão frígida e sem essência, das falsas juras ditas sob abstenção de culpa ou interesse supérfluo, social.
(...) Encontrado um morto em prantos na escadaria da Sé!
Sobre a escadaria da majestosa catedral, arrítmico e hipovolêmico, faleceu nesta noite, maltrapilho, embriagado e choroso, aquele que ousavam chamar de amor.
Não haviam trocados, papéis ou frascos de cianureto em seus bolsos.
Calças largas, sua braguilha fechada e descalço, sobre os ombros, paletó antigo comprado a prazo, um lenço que cobria-lhe o pescoço nu e dois brincos sem lastro. (...)
Seria esta a manchete circulante na manhã paulista?
Tresloucados amigos, digo-lhes então, não há amor verdadeiro senão, aquele cujos olhos terceiros vertem lágrimas em emoção.
Virtuoso amigo, das letras e conversas nunca tidas, dou-lhe um conselho, talvez um tanto crítico, porem certeiro, não percais tempo incitando pessimismos pequenos, amores nunca plenos ou sentimentos quaisquer. Eis cá meu brado, a morte do "amor" dos meus tempos, sem errata, sem nenhum afago.
Rafael Ruiz Zafalon de Paula
Enviado por Rafael Ruiz Zafalon de Paula em 23/03/2019
Alterado em 23/03/2019